Clube aposta em estudo profundo para encontrar alternativa financeira sustentável sem abrir mão de sua essência
O Internacional está prestes a dar um passo importante na busca por estabilidade financeira, mas com um cuidado essencial: preservar sua identidade.
Ao contrário de outros clubes brasileiros que já adotaram o modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF), o Inter quer trilhar um caminho próprio.
A ideia é construir um formato de investimento que respeite a cultura colorada e seja viável a longo prazo.
Uma discussão madura e estratégica
A pauta sobre a SAF não é nova no Beira-Rio. Há pelo menos três anos, o tema vem sendo debatido internamente.
O assunto voltou ao centro das atenções após o Conselho Deliberativo rejeitar o projeto de debêntures em dezembro de 2024.
Com uma dívida significativa e a necessidade de reorganização financeira, o clube entende que não dá mais para adiar as decisões.
Mas isso não significa pressa sem planejamento. Pelo contrário. A direção liderada por Alessandro Barcellos quer esgotar todas as possibilidades e fazer um movimento estratégico, sempre em sintonia com o Conselho.
INVESTIDOR, SIM. DONO, NÃO.
O vice-presidente do Inter, Dalton Schmitt Jr., reforça que o clube não busca um dono. A proposta é abrir espaço para parcerias, mas sem entregar o controle.
Um modelo de sociedade minoritária, por exemplo, pode atrair investidores interessados, sem interferir diretamente na gestão.
> “A gente não precisa ter um dono. Pode ser uma sociedade de duas partes, com um investidor que não necessariamente compre o controle, mas tenha seus interesses amarrados desde o início”, afirmou Dalton em entrevista ao ge e à GZH.
Dalton também alerta para os riscos do modelo SAF no contexto gaúcho. Segundo ele, a troca de controle em SAFs que não dão lucro pode gerar instabilidade, algo que preocupa quando se fala em um clube com a história e o peso do Inter.
Dívida de R$ 378 milhões e o custo da competitividade
Em maio de 2025, o Internacional firmou um acordo de transição tributária com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, visando reestruturar uma dívida de aproximadamente R$ 378 milhões.
Só com o serviço dessas dívidas, o clube estima gastar entre R$ 80 e R$ 100 milhões por ano — valores que, se investidos no futebol, poderiam significar dois ou três reforços de alto nível no elenco.
Barcellos reconhece esse peso e, por isso, quer acelerar a contratação de uma consultoria especializada, que irá orientar a melhor estratégia de captação de recursos e reestruturação. A meta é ter um plano claro até o fim do ano.
> “Não podemos demorar. Precisamos nos antecipar e ter uma visão clara das alternativas. Não queremos ficar a reboque do que acontece no futebol”, reforça o presidente.
O desafio de se manter competitivo
Mesmo sem virar SAF, clubes como Flamengo e Palmeiras seguem dominando financeiramente o futebol brasileiro.
Esse cenário pressiona ainda mais os demais a encontrarem caminhos para competir sem perder a essência.
A disparidade de receitas e investimentos já é sentida, e o modelo clube-empresa ajudou a inflacionar o mercado.
No caso do Inter, o desafio é encontrar esse equilíbrio: pagar as dívidas e manter o time forte. A folha salarial atual está entre as oito a dez maiores do país, o que limita o poder de investimento em reforços e estrutura.
Decisão será coletiva e pensada para o longo prazo
A proposta do Inter é clara: envolver todo o clube na construção do futuro. O estudo sobre o novo modelo de gestão será feito a várias mãos, com participação ativa do Conselho Deliberativo.
A ideia é não agir por impulso, mas construir uma base sólida que permita crescimento com responsabilidade.
O Internacional segue analisando seus caminhos com cautela e estratégia, para que o futuro financeiro esteja alinhado com a grandeza de sua história.